A ausência de erros na Bíblia

Finalizando o mês Bíblico não posso deixar de dizer a importância de se afirmar a ausência de erros na Bíblia, ora mas porque se afirmar isso? será que aquele que crê tem duvida sobre a autenticidade das escrituras? é evidente que não. Mas então por que se afirmar isso?
Para não corrermos o risco de nos deixar levar por aqueles que dizem encontrar contradições nas escrituras e pelo descuido de nós mesmo não o termos percebidos. Será que agora estou a afirmar que a Bíblia contem erros? não mas que se levada ao fundamentalismo ela se torna uma descrença ao que professamos podendo até concluir que a Bíblia contem erros.
Em (Jo10,35) o Próprio cristo afirma "Ninguém pode anular a escritura". Com esta resposta, Jesus nos convida a olharmos de perto muitos textos bíblicos que menosprezamos e que não sabemos aprofundar, porque não enquadram com a nossa maneira de pensar e com as nossas próprias convicções religiosas. Os ouvintes de Jesus sabiam que o nome do Deus único não se pode comunicar a nenhuma criatura: mas era preciso excluir toda a  comunhão do homem com Deus para salvar esta certeza e esta fé? Não se podia dizer que Deus se torna presente dentro da própria humanidade? Pois bem, todo o Evangelho de a João evidencia, juntamente com a divindade do enviado de Deus, a vontade de Deus que quer divinizar-nos, ao passo que os adversários de Jesus permaneciam no plano dos preceitos e das tradições que era preciso observar para ser catalogado entre os bons. Mas também é verdade que essa afirmação de Jesus toca o tema da ausência de erro na Escritura, e sabemos que de há um ou dois séculos para cá o caráter da verdade divina que se atribui aos livros Sagrados tem sido contestado com argumentos  procedentes de partes muito diversas.
Para um crente, a ausência de erros na Palavra de Deus é inegável, mas mesmo assim é necessário precisar que tipo de verdade esperamos dessa Palavra. Basta, por exemplo, compara duas narrativas do mesmo fato nos diversos evangelhos, para ver que as contradições verificadas nos pormenores são numerosas. Compare-se, por exemplo,(Mt20,30) e (Mc10,46):(Mt18,1)-(Mt18,3) e (Mc9,33) - (Mc9,35). Devemos admitir, portanto, que Deus não ditou aos autores dos livros sagrados uma oficial postos por escrito obedeceram à regra geral: os melhores testemunhos dependem sempre , em parte, da pessoa que vê e que, sem querer, dá logo uma certa interpretação àquilo que viu. Contudo, à medida que se foi desenvolvendo a civilização moderna, foram surgindo dificuldades ainda maiores. Em primeiro lugar, verificou-se o desenvolvimento das ciências, e levantaram-se muitos problemas devido à oposição surdida entre a visão do mundo e das origens do homem dada pela ciência, e a que tinham os autores da Bíblia, sobretudo nos primeiros capítulos do Gênesis. Então os cristãos de dividiram. Enquanto os fundamentalistas se tinham à letra da narrativa, chegando a negra os fatos científicos mais comprovados, os outros tiveram de reconhecer que a verdade da narrativa bíblica não consistia na descrição das nossas origens, mas no lugar que essas paginas atribuíam às criaturas e ao homem no plano de Deus. Ver, a este respeito, nota a (Gn1,1).
Surgiram depois as dificuldades históricas. Foi necessário reconhecer que os autores da Bíblia não dispunham dos nossos meios para investigar o passado, mas, por outro lado, viam na história uma ilustração d ação de Deus nela: o quadro era verdadeiro, embora nem todos os fato se pudessem verificar. A partir do momento e que o leitor entrava nessa perspectiva, podia aceitar, sem medo, que não se pode duvidar da Escritura.
Vem em seguida a evolução da moral. Muitas leis morais herdadas da Bíblia, e consideradas até então obrigatórias para toda a pessoa de boa fé, deixam de ser evidentes para os nossos contemporâneos.
Não se deveriam relativizar as proibições sexuai da Bíblia? Veja-se,  a este respeito, o comentário a (1Cor7,1).
O movimento de emancipação feminista suscitou, por sua vez, uma objeção terrível: a Bíblia foi totalmente escrita no marco de uma cultura patriarcal. As experiências religiosas que narra foram na sua imensa maioria vividas, interpretadas e contadas por homens, em circunstância que não proporcionam à mulher meios de expressão nem  de manifestação da sua própria identidade. Que valor tem a imagem de um Deus machista, guerreiro e dominador, que ressalta de tantas páginas da Bíblia? E a inferioridade proclamada da mulher (Tm2,11) - (Tm2,15),não lança um manto de dúvida sobre toda a mensagem humana da Bíblia? Um último ataque provém de um olhar mais imparcial a respeito das outras religiões. A partir do momento em que se admitiu que Deus previu, efetivamente ,a salvação de todos os homens, e não só daqueles que crêem e são batizados, de que servem tantos discursos do Novo Testamento, sobretudo aqueles que parecem dizer que, sem o evangelho, sem o batismo, sem  a fé de Cristo, não há salvação? Ver, a este respeito, as notas a (Mt16,15) e (Ap22,3). Assim devemos dizer algumas palavras sobre a ausência de erros na Escritura.
O livro sagrado é totalmente obra de Deus e totalmente obra de  um autor humano, tal como dizemos na nota sobre a inspiração, a propósito de (2Tm3,16). Deus não ditou. Também não pressionou o autor para que dissesse o que nunca tinha pensado dizer e para que o fizesse em contraposição com a sua própria cultura. A obra do Espírito foi mais discreta, porque o Espírito sabe fazer-se nosso espírito. Deus o homem forneceu a sua experiencia religiosa e a da sua comunidade, cada uma delas com as suas limitações; Deus fez com que esse livro ocupasse os seu lugar num conjunto em que se devia inscrever toda a revelação necessária a todos aqueles que ele quisesse chamar para conhecerem o seu Filho único. Só a partir desse duplo projeto, de Deus e do homem , se pode falar de erros ou de ausência de erros na Escrituras. Devemos confessar que o uso habitual do termo "ausência de erros", para nos referirmos a este tema, é bastante infeliz, pois de antemão provoca uma posição defensiva. O adversário ata: Essa Bíblia com tem erros! E respondemos-lhe como podemos. O fundamentalista mante-se na sua. Adaptando a história contada por Di Melo, certo arqueólogo diz ao fundamentalista: "Acabamos de encontrar umas ossadas num tempo que tem 30.000 anos de idade; a sua criação do homem há apenas 5.000 anaos é uma fabula!" "Um momento" responde o fundamentalista, "o que se passa é que Deus colocou esse ossos nesse lugar para provar a nossa fé" A imensa maioria dos crentes responderá, simplesmente, que, embora a inspiração do autor garanta a verdade da mensagem religiosa, não o liberta dos seus limites humanos nem das características da sua cultura. Contudo, seria certamente preferível recordar que a Verdade é Deus. Deus revela-se e comunicas-se, mas o que ele procura sempre é colocar-nos na verdade, e nunca da-nos verdades das quais poderíamos fazer um pequeno tratado, para o qual bastaria olhar a fim de ter sempre a resposta adequada. Mais do que defender a Bíblia e falar de ausência de erros em geral, de forma abstrata, deveríamos interrogar-nos se, por vezes a Bíblia não nos terá induzido em erro, ou não nos terá levado a tomar uma decisão desacertada. Descobriremos certamente, mais de uma vez, certos preconceito do autor e as limitações do seu olhar: isso é próprio de qualquer cultura e de qualquer obra humana. Porém, se abordamos o texto com olhar da fé, dele sempre se desprenderá a certeza de termos tocados a verdade. A página, lida com fé e colocada de novo no conjunto da Bíblia, não nos enganará. Descobriremos que todo o Antigo Testamento é uma longa pedagogia de Deus, que muitas verdades foram surgindo pouco a pouco e que algumas, inclusive, só se consolidaram com a vinda de Deus,. Contudo, se precisamos de uma chave para interpretar esse longo caminhar do povo de Deus, e reintroduzir algumas personagens muito ausentes, ou muito menosprezadas (como no caso das mulheres), as encontraremos na pessoa do Filho de Deus feito homem; Deus ordenou toda a revelação de maneira a fazê-la conduzir tudo a ele, e é nele que ela acaba. No texto João que citamos, Jesus apoiou-se num frase e numa palavra precisa. O leitor moderno tem, pois, o direito de se interrogar se também pode apoiar-se com a mesma certeza nas palavras que encontre. Mas nunca encontraremos critérios simples, de aplicação fácil, que nos permitam ler, sem erros, as palavras inspiradas. A história nos ensina que as discussões religiosas entre adversários que faziam o mesmo uso da Bíblia muito poucas vezes levaram a uma reconciliação. Além disso, quando temos de tomar uma decisão, quantas vezes nos perguntamos se podíamos confiar na palavra bíblica? O problema é outro. o uso da Palavra de Deus é como um jogo que compromete toda a pessoa; as suas regras permanecem ocultas para quem olha a Bíblia de fora( como faz o demônio, nas tentações de Jesus). O crente que recebe a Bíblia como uma revelação da Sabedoria divina, a mesma que se manifestou plenamente em Jesus Cristo, saberá discernir quando for necessário. Porém, mesmo assim, continuará havendo lugar para os nossos próprios erros, porque a nossa cultura e a nossa experiência religiosa não estão mais asseguradas do que as dos séculos passados.

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