Evolução da quaresma leva nos a ter uma Páscoa em excelência.

Desde seus primeiros anos, a Igreja vê a Páscoa como o vértice supremo da sua vida, o centro da história e sua fonte de sentido. Os primeiros cristãos encantam-se com o mistério  da morte-ressurreição de Cristo, mistério que restaura todas as coisas, o homem e o universo. Dominados pelo evento pascal, os cristãos reservam, no século II, um domingo particular para sua celebração; para que esta celebração seja digna, deverá ser preparada da melhor maneira possível, com oração e jejum. Batismo e iniciação cristã, intuitivamente, são por isso sempre reservados à Páscoa, uma vez que São Paulo, na carta aos Romanos (Rm6), ensina que o batismo é perfeita conformação à morte e ressurreição de Cristo. Deste modo, o período de preparação intelectual, moral e espiritual desejado para todos os cristãos, torna-se mais intensivo para os catecúmenos (os que se preparam para o batismo), em vista de sua iniciação próxima.
O antigo Tríduo Pascal tinha início  na Sexta-feira Santa (morte do Senhor) e, passando através do Sábado Santo, terminava na noite de Páscoa e no dia da ressurreição; Hipólito de Roma (na obra Tradição Apostólica) e o texto antigo denominado Didaqué prescrevem o jejum especial aparece aqui como um prenúncio da quaresma, preparação própria para a Páscoa.
Durante o século IV organiza-se o período de preparação de três semanas, nas quais se proclamava o evangelho de São João, caracterizado por trechos referentes à proximidade de Jesus em Jerusalém.
Pouco antes do ano 384, há testemunhos da  preparação de seis semanas, com caráter ascético, com a introdução da reconciliação dos penitentes na Quinta-feira Santa, preparados anteriormente durante quarenta dias. Os penitentes davam inícios a esta preparação no primeiro domingo destas seis semanas, mais tarde antecipada para a quarta-feira anterior (Quarta-feira de Cinzas). A reconciliação realizava-se na Quinta-feira Santa, quarenta dias depois do inicio da sua preparação (Quadragesima = Quaresma).
No final do século V, tem início a celebração da quarta e sexta-feiras que precedem o primeiro domingo (a Quaresma); impunha-se as  cinza, nesta quarta-feira, aos penitentes; mais tarde a cerimônia será estendida a todos os cristãos. Com esta imposição, os penitentes iniciam um rígido retiro  espiritual  até a Quinta-feira Santa.
A organização  do catecumenato (preparação para a Iniciação Cristã), conforme Hipólito de Roma, assume conotações  mais precisas; mais tarde encontramos detalhes importantes sobre a organização dos escrutínios(exorcismos). Os textos bíblicos  usados nas celebrações valorizavam esse caráter ascético  da Quaresma, o que foi modificado depois do Concílio Vaticano II.
A evolução da Quaresma exigia uma renovação corajosa; devia ser redimensionado todo o período. Decidiu-se fazer da Quarta-feira de Cinzas o caput quadragesimae (a cabeça da quaresma), sendo revistas as leituras e os textos, tantos para o ofícios quanto para a missa.
A celebração hodierna da Quaresma se apresenta como uma nova riqueza na vida da Igreja. Três grandes temas percorrem as leituras  quaresmais: Rasgai os vossos corações não as vossas roupas, o perdão do Senhor  condicionado pelo nosso perdão: para ser perdoado é preciso perdoar(Lc 6, 36-38; Mt 18, 21-35); a renovação eo dom da vida, frutos do mistério pascal: eis o tempo favorável para a conversão (2Cor 5,20-6,2).
O jejum penitencial da Quaresma terminava com a Quinta-feira Santa; com a Sexta-feiras Santa começava o jejum, diz Tertuliano, os cristão honram os dias em que Cristo foi tirado à sua Igreja.
No término da Quaresma, como cume, celebra-se o Trídou Pascal, expressão usada desde o século IV por Santo Ambrósio, indicando as etapas do mistério pascal: durante esses três dias Cristo morre, é sepultado e ressuscita. Santo Agostinho recorre à expressão Sacratíssimo Tríduo para designar os três dias do Cristo crucificado, sepultado e ressuscitado.

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