O Céu
É dogma de fé de nossa Santa Igreja que as almas dos justos que no instante da morte se acham livres de toda culpa e pena do pecado entrem no Céu. O Céu, ensina-nos a Mãe Igreja, é um lugar e estado de perfeita felicidade sobrenatural, a qual tem sua razão de ser na visão de Deus e no perfeito amor a Deus que dela resulta.
O coração humano é uma exigência de felicidade e todos nós temos uma nostalgia, uma saudade imensa do Paraíso perdido. Quantas vezes não sentimos uma saudade forte e não sabemos bem de quê. É do Céu, pois Deus nos criou para a Vida Eterna, para a Felicidade Eterna. A Sagrada Escritura registra a verdade sobre a imortalidade da alma (Salmo 48, 16; 72, 26; Daniel 12, 2; II Macabeus 6, 26; 7, 29.36). A Bíblia fala da ressurreição em muitas passagens e condena a superstição reencarnacionista, pois só temos essa vida aqui na Terra, vindo depois a Eternidade (Hebreus 9, 27).
O livro de Sabedoria nos descreve a felicidade e a paz das almas dos justos, que descansam nas mãos de Deus e vivem eternamente com Ele (Sabedoria 3, 1-9; 5, 15-16). Nosso Senhor representa a felicidade do Céu sob a imagem de um banquete de casamento (Mateus 25, 10; 22, 1ss; Lucas 14, 15ss) designado esta bem-aventurança de vida ou vida eterna (Mateus 19, 19; 25, 46; João 3, 15ss; 4, 14; 5, 24; 6, 35-39; 10, 28; 12, 25; 17, 2). A condição para alcançar a vida eterna é conhecer a Deus e a Cristo (João 17, 3). Aos puros de coração, Cristo promete que verão a Deus (Mateus 5, 8).
Nada na Terra pode ser comparado à beleza e à felicidade do Céu, embora a beleza e a felicidade aqui neste mundo, seja uma pálida imagem da realidade do Céu. Leia-se as palavras do Apóstolo São Paulo, que foi arrebatado até o Céu (I Coríntios 2, 9; II Coríntios 12, 4). Aos fiéis que perseverarem até o fim está garantida uma recompensa da vida eterna (Romanos 2, 7; 6, 22s) e uma glória que não tem proporção com os sofrimentos deste mundo (Romanos 8, 18). Em lugar do conhecimento imperfeito de Deus que possuíamos aqui nesta vida, então veremos a Deus imediatamente (I Coríntios 13, 12; II Coríntios 5, 7).
Uma idéia fundamental da teologia de São João é que pela fé em Jesus, Messias e Filho de Deus, consegue-se a vida eterna (João 3, 16.36; 20, 31; I João 5, 13). A vida eterna consiste na visão imediata de Deus (I João 3, 2). O livro do Apocalipse nos descreve a felicidade dos bem-aventurados que se acham na presença de Deus e do Cordeiro, isto é, Cristo glorificado. Todos os males físicos desaparecerão (Apocalipse 7, 9-17; 21, 3-7).
No Céu, os que permanecerem na fé verdadeira, também serão extraordinariamente felizes, pois estarão na companhia de Cristo (no tocante a Sua humanidade), da Virgem Santíssima, dos anjos, dos santos e voltarão a reunir-se com os seres queridos, familiares e amigos, que tiveram durante a vida terrena e conhecerem as obras de Deus.
Diz-nos, ainda, o dogma de nossa fé católica, que a felicidade do Céu dura por toda a eternidade. Nosso Senhor compara a recompensa pelas boas obras aos tesouros guardados no Céu, o que não se podem perder (Mateus 6, 20; Lucas 12, 33; 16, 9). Os justos, diz a Sagrada Escritura, irão para vida eterna (Mateus 25,46; 19,29; Romanos 2, 7; João 3, 15s). São Paulo fala da eterna bem-aventurança empregando a imagem de uma coroa incorruptível (I Coríntios 9, 25). São Pedro, nosso primeiro Papa, a chama de coroa imperecível de glória (I Pedro 5, 4).
O Céu é o cumprimento de todos os desejos legítimos e análogos ao estado futuro do homem (Salmo 16, 15). Para o provar, bastam estes dois princípios: primeiramente, o Céu é o livramento completo do mal e o gozo completo da pura felicidade sem fim; em segundo lugar, o homem será, no Céu, verdadeiro homem, isto é, em corpo e alma. O Céu será pois, a felicidade completíssima do corpo e da alma. Assim nos ensina a Santa Mãe Igreja baseada na Sagrada Escritura, na tradição e a nossa razão, o nosso coração diz amém! O Céu é uma exigência fundamental do coração humano.
Eis, pois, a razão porque o homem deseja o Céu com todas as forças do seu ser. Criado para a felicidade, gravita incessante e irresistivelmente para o seu fim, como a agulha tocada com o ímã para o pólo, e como tudo na natureza para o seu centro. Desde o berço até o túmulo, este ser abatido e desgraçado busca a sua reabilitação e o livramento do mal; este rei destronado busca o seu trono; busca-o por toda a parte, lembrando-se do Céu. Lamentavelmente, o homem sem a estrela, a bússola que o conduz ao Céu, a Igreja Católica, na sua procura de felicidade coloca-a onde ela não está e essa é uma terrível conseqüência de sua degradação. Dir-se-ia uma grande criança que, colocada na margem de sereno lago, vê de súbito no espelho das águas a imagem da lua. Toma-a pelo próprio astro, e no seu erro, precipita-se no lago, e a imagem de despedaça; e quanto mais se agita para a apanhar, menos a alcança. E o que resulta dos seus penosos esforços é a fadiga, o desespero, a morte no meio das águas. É o homem a buscar a seus pés o que está acima dele, perseguindo a sombra e não a realidade. Seu coração deseja felicidade, o Céu, mas o homem sem a razão iluminada pela fé segue o instinto e como pecador abraça a sombra dos prazeres da carne e erra o alvo; ao invés do Céu e da liberdade, encontra o Inferno, a escravidão.
Créditos ao Diácono Francisco Almeida Araújo
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